Trabalho Voluntário é Transformador - para quem recebe e para quem doa

Hoje, li um texto da Gi Maradei, voluntária do Teto, que me fez pensar a respeito do trabalho voluntário e porque o fazemos. Lembrei que, enquanto eu realizava um trabalho voluntário em uma instituição para idosos em situação de vulnerabilidade, muitas vezes, me pegava sem vontade de ir, com uma mistura de medo do que ia encontrar lá, pois não era fácil ver aqueles idosos tão vulneráveis, também de preguiça de desviar do caminho de casa para ir até o local e ficar lá por duas horas e sair da minha zona de conforto, mesmo que fosse uma vez por semana. Enfim, na minha mente cansada e ansiosa, mil desculpas apareciam para que eu desistisse. Mesmo assim, eu ia!

Chegando lá, só de olhar para eles, era como se uma imensa e negra nuvem se dissipasse e o sol brilhasse no céu azul. As horas passavam voando literalmente e a sensação de estar ali com eles - na nossa oficina de artes – era de muita alegria e gratidão de poder contribuir para que o dia deles fosse um pouquinho mais leve e colorido. Ao final, eu me sentia beneficiada. Muitas vezes, percebia que eles estavam irritados com qualquer outro assunto ou pouco atentos, mesmo assim, só de poder trocar, conversar um pouco com eles, me enchia de energia e felicidade. Saia de lá renovada e com uma sensação de completude que não encontrei em nenhum outro lugar até hoje.

O serviço voluntário, nos Projetos do Instituto Açucena e Pequena Tribo, tem despertado muitas dessas emoções, e esses sentimentos de completude, de propósito e de gratidão em nós. É muita felicidade envolvida e tem sido transformador.
Alguns estudos foram feitos para mostrar que sim, o voluntariado transforma a vida das pessoas reduzindo o stress, a depressão e trazendo, para a vida, esse sentido de propósito e uma maior sensação de bem-estar e felicidade. Trazemos alguns dados aqui.

De acordo com o World Happiness Report de 2019:
Uma grande quantidade de pesquisas correlacionais mostra que gastar tempo ajudando outras pessoas está associado a benefícios emocionais para o doador. Na verdade, foi documentado um vínculo robusto entre o voluntariado e maior satisfação com a vida, afeto positivo e redução da depressão. Em uma revisão, 37 estudos correlacionais, amostras variando de 15 a mais de 2.100 voluntários adultos tiveram pontuação significativamente mais alta nas medidas de qualidade de vida em comparação com os não voluntários.

Os dados de uma pesquisa, com amostra de 66.343 respondentes que vivem no Reino Unido, indica que o voluntariado foi associado a um maior bem-estar, medido pelo General Health Survey, uma escala validada que inclui vários itens relacionados para a felicidade geral. A pesquisa também identificou vários ingredientes-chave que parecem ser importantes para transformar boas ações em bons sentimentos. Especificamente, as pessoas têm mais probabilidade de sentir alegria em ajudar os outros quando: eles se sentem livres para escolher se ou como ajudar; eles se sentem conectados às pessoas que estão ajudando; eles podem ver como sua ajuda está fazendo a diferença.

E mais, o World Happiness Report de 2021 menciona que, em um estudo mais recente, com mais de 50.000 adultos do Reino Unido, foi relatada maior satisfação com a vida nos dias em que esses indivíduos se engajaram em trabalhos voluntários.
O autor Allan Luks reforça os benefícios do voluntariado no livro “The Healing Power of Doing Good” (o poder curativo de fazer o bem, na tradução livre do inglês): “Quem realiza pelo menos quatro horas de trabalho voluntário por mês tem dez vezes mais chances de ter uma boa saúde do que quem não voluntaria”, escreve Luks.
No Brasil, segundo estudo “O Brasileiro e a Solidariedade” de março de 2021, do Locomotiva, houve uma onda solidária durante a pandemia em 2020, na qual 72% dos brasileiros tiveram alguma atitude de solidariedade, totalizando mais de 117 milhões de pessoas. Desses, 71% disseram que acreditam que sairão da pandemia mais generosos – a solidariedade, impulsionada por um momento crítico, gerou um sentimento benéfico que inspira as pessoas a continuarem nesse movimento de contribuição.

Com tudo isso, não queremos dizer que estamos nos voluntariando para receber algo, mas é lindo ver como esse fluxo se retroalimenta e os benefícios que se estendem para todos os envolvidos. Em geral, nosso trabalho no mundo estamos em busca de trocas, ganhamos dinheiro para obter bens materiais, no entanto, isso não nos satisfaz plenamente como seres humanos. Falta algo e, na maior parte do tempo, não nos sentimos felizes. Já, no trabalho voluntário, doamos tempo, recursos, energia em prol de um grupo de pessoas, uma comunidade, um projeto, sem esperar receber nada em troca, mas a verdade é que recebemos muito. Nos conectamos com uma felicidade genuína, que já está em nós, de forma simples e transformadora que envolve ser, realizar e contribuir, muito mais do que obter.

Referências
World Happiness Report 2019: https://worldhappiness.report/ed/2019/
World Happiness Report 2021: https://worldhappiness.report/ed/2021/

Texto da voluntária: Erica Vilas Boas Massini